BOLETIM ECONÔMICO DO ESTADO DE ALAGOAS

Análise de Mercado e Tendências Globais

15 de setembro de 2025

Cenário econômico de Alagoas

A economia alagoana, apesar de sua menor participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, que foi de 0,8% em 2021 (O Jornal Extra, 2023), tem demonstrado uma notável trajetória de resiliência e crescimento nos últimos anos, frequentemente superando as médias nacional e regional (Sefaz-AL, 2023). Este dinamismo, contudo, coexiste com desafios sociais e de infraestrutura de longa data. A análise subsequente irá desdobrar essa complexa relação, examinando o crescimento setorial e do mercado de trabalho, a sustentação do consumo interno e, em contraste, as profundas disparidades sociais reveladas pelo Censo Demográfico de 2022.

Situação atual da Economia Alagoana

A economia de Alagoas apresenta, em 2025, sinais de fortalecimento em diversos setores. O estado vem registrando desempenho acima da média nordestina em termos de crescimento econômico, com destaque para a indústria, que deve ampliar sua participação relativa no PIB estadual. Estimativas apontam para um crescimento próximo de 2,5% em 2025, puxado pela indústria de transformação e pela agroindústria, beneficiadas pela expansão do crédito regional, especialmente via Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), cujo orçamento cresceu cerca de 32% em relação ao ano anterior.

A projeção de crescimento de 2,5% para a indústria alagoana em 2025 é corroborada por uma análise do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), do Banco do Nordeste (BNB), que aponta o setor como o de maior crescimento na composição do PIB estadual para o ano. A expansão é impulsionada por um robusto aumento de 32% no orçamento do FNE, que destina R$ 260 milhões especificamente para o setor industrial e agroindustrial em 2025 (BNB, 2025). Outras instituições, como o Santander e o próprio BNB, projetam um crescimento total para o PIB de Alagoas em 2025 de 1,9% e 2,0%, respectivamente (Governo de Alagoas, 2025). Embora essas previsões sejam mais conservadoras do que o desempenho de 2024, elas ainda superam a projeção para a média nacional, que é de 1,8%. Essa dinâmica indica que, apesar de o setor de serviços ter sido o principal motor em 2024, a estratégia de desenvolvimento para 225 está focada em alavancar a indústria como o principal vetor de crescimento futuro, por meio de crédito direcionado, atenuando a vulnerabilidade a fatores macroeconômicos nacionais como juros elevados e pressões inflacionárias (Bello, 2024). A expansão do crédito via FNE também se estende a grandes projetos de infraestrutura, como o investimento de R$ 900 milhões em saneamento na Grande Maceió, que estimula a indústria da construção civil e gera um efeito multiplicador indireto na economia local.

Mercado de Trabalho

O mercado de trabalho alagoano também mostra evolução positiva. A taxa de desemprego caiu para 7,5% no segundo trimestre de 2025, configurando o menor patamar histórico do estado segundo o IBGE. Maceió, em particular, contribuiu de forma significativa, com a criação de mais de 400 empregos formais apenas em abril, fortalecendo a geração de renda e o dinamismo da economia local.

A queda da taxa de desemprego para 7,5% no segundo trimestre de 2025 é confirmada pelo IBGE e representa o menor patamar da série histórica iniciada em 2012, de modo que o desempenho coloca Alagoas em uma posição de destaque regional, com a segunda menor taxa de desocupação no Nordeste, atrás apenas do Ceará (Governo de Alagoas, 2025; IBGE, 2025). O avanço no mercado de trabalho também se reflete na formalização, uma vez que Alagoas registra o segundo maior percentual de trabalhadores com carteira assinada na região, com 63,1% (Queiroz, 2025). Essa conquista, no entanto, coexiste com o desafio estrutural de uma alta concentração de postos de trabalho na capital que, desde 2021, tem sido responsável por mais de 55% das carteiras de trabalho assinadas em todo o estado, o que demonstra que a redução do desemprego é um resultado direto de políticas públicas de atração de empresas e investimentos, como o Programa de Desenvolvimento Integrado do Estado de Alagoas (Prodesin), mas também reforça a necessidade de interiorização do desenvolvimento para garantir um crescimento mais equilibrado e sustentável em todo o território alagoano (Prefeitura de Maceió, 2025).

Comércio, Serviços e Crédito

Embora os setores de comércio e serviços não apresentem taxas de crescimento tão expressivas quanto a indústria, desempenham papel complementar importante, sustentando a expansão do consumo interno. O crédito direcionado à indústria e à agroindústria ganhou maior protagonismo, mas também há crescimento no crédito ao consumo, impulsionado pela melhoria do mercado de trabalho.

Desafios e Perspectivas

Apesar dos avanços, a economia de Alagoas ainda enfrenta desafios. Entre eles, destacam-se a necessidade de reduzir a dependência da capital em relação ao interior no que se refere à geração de emprego, a vulnerabilidade a oscilações nos custos de insumos e transporte e a dependência de políticas federais de incentivo. Além disso, fatores macroeconômicos nacionais, como juros elevados e pressões inflacionárias, podem limitar a expansão do crédito e do consumo. A dinâmica atual dos setores de comércio e serviços se baseia em um ciclo virtuoso de melhoria do mercado de trabalho e expansão do consumo. A queda na taxa de desemprego e o aumento do rendimento médio real para R$2.530 no segundo trimestre de 2025 impulsionaram a massa de rendimento disponível no estado, que alcançou R$3,03 bilhões, um crescimento de 14,5% em relação a 2024 (Governo de Alagoas, 2025). Esse aumento na renda fortalece o consumo interno e, por consequência, os setores de comércio e serviços, que, embora não sejam o motor principal de crescimento em 2025, formam a base resiliente da economia. O setor de serviços, em particular, foi o motor indiscutível do crescimento em 2024, expandindo 6,68% e representando mais de 70% do PIB estadual, o que demonstra sua centralidade na economia alagoana e sua capacidade de impulsionar a recuperação pós-pandemia. Para os próximos trimestres, a perspectiva é de manutenção do crescimento moderado, com a indústria permanecendo como motor central, mas com espaço para avanços na diversificação produtiva. Caso as condições de crédito e investimento sejam preservadas, o estado pode consolidar ganhos importantes em renda e emprego, reforçando sua posição no contexto econômico do Nordeste.

Alagoas (2022-2024) - Índices Macroeconômicos

A Secretaria de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio (SEPLAG) de Alagoas, por meio de sua Superintendência de Informações e Cenários (SINC), publicou uma nota técnica com a estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) do estado para 2024 e a revisão dos dados de 2023. O objetivo é antecipar tendências econômicas diante da defasagem na divulgação oficial das Contas Regionais pelo IBGE.

Em 2024, a economia alagoana apresentou um crescimento estimado de 4,34%, desempenho superior à média nacional, que foi de 3,4%. Este resultado foi puxado principalmente pelo vigoroso crescimento do setor de Serviços (6,68%), que possui o maior peso na economia estadual (70,92%). Dentro deste setor, destacaram-se os subsetores de Alojamento e Alimentação (+23,52%), impulsionado pela retomada do turismo, e Atividades Profissionais e Técnicas (+15,29%). A Indústria também contribuiu positivamente, com um crescimento de 2,85%, sustentado principalmente pela Construção Civil (+7,28%) e pela Indústria Extrativa (+5,04%), que se beneficiou de incentivos fiscais e novos investimentos. Por outro lado, a Agropecuária registrou uma retração de -2,15%. A queda foi influenciada principalmente pela estiagem no final do ano e por problemas fitossanitários, que impactaram a produção de culturas importantes como cana-de-açúcar, laranja, banana e feijão, embora produtos como tomate, milho e a pecuária tenham apresentado desempenho positivo. Em relação a 2023, a taxa de crescimento do PIB foi reavaliada para baixo, de uma estimativa inicial de 4,08% para 3,13% após a incorporação de dados mais recentes e definitivos.

A revisão se deveu principalmente a uma piora no desempenho da agropecuária (que passou de um crescimento pequeno para uma leve queda) e dos serviços, enquanto a indústria mostrou um desempenho ainda melhor do que o inicialmente projetado.

Imagem de um gráfico macroeconômico de Alagoas

Alagoas (2022-2024) - Comparação e Habitação

Comparando com outros estados do Nordeste, Alagoas superou o crescimento da Bahia (2,8%), mas ficou atrás de Ceará (6,49%) e Pernambuco (4,9%) em 2024. O documento conclui que a economia alagoana manteve uma trajetória de crescimento sólido, consolidando a recuperação pós-pandemia, com o setor de serviços como seu principal motor, embora ainda enfrente desafios setoriais, especialmente na agropecuária. Todas as estimativas são preliminares e estão sujeitas a revisões futuras com a divulgação dos dados oficiais consolidados.

Além disso, o censo demográfico de 2022 revelou importantes características dos domicílios alagoanos, destacando desafios e avanços na infraestrutura básica do estado. Alagoas possui um total de 1.332.264 domicílios. Desse total, a grande maioria (1.319.512) são domicílios particulares permanentes. Dentre estes, 78,84% (1.041.552) estão ocupados, enquanto 18,3% (241.861) estão vagos e 7,1% (93.698) são de uso ocasional.

A habitação na forma de casa ainda é predominante, representando 84,75% dos domicílios, embora tenha havido uma significativa mudança em relação a 2010, com um aumento na proporção de apartamentos, que saltou de 3,71% para 12,91%. Outros 4,54% dos domicílios são casas de vila ou condomínio.

Gráfico de porcentagem de crescimento de Alagoas e de outras regiões do Brasil

Alagoas (2022-2024) - Serviços básicos

No que diz respeito ao acesso a serviços básicos, os dados apontam para disparidades significativas. Quanto ao abastecimento de água, apenas 68,14% dos domicílios ocupados são servidos por água canalizada de uma rede geral, um percentual que fica bem abaixo da média nacional (83,88%) e da média regional (77%). A principal forma de abastecimento é a rede geral (63,04%), seguida por poço profundo (5,75%) e poço raso (6,07%).

O esgotamento sanitário é um dos pontos mais críticos: apenas 34,08% dos domicílios estão ligados à rede geral de esgoto, um índice muito inferior às médias nacional (56,65%) e regional (42,06%). A forma mais comum de destinação dos dejetos é através de fossas sépticas (43,31%), seguidas por fossas rudimentares (16,39%) e valas (2,48%). Cerca de 14,03% das soluções são consideradas inadequadas.

Quanto ao lixo, a maioria dos domicílios (87,22%) possui coleta, sendo que 79,33% são atendidos por serviço de limpeza e 2,87% depositam em caçamba do serviço. No entanto, 10,87% ainda queimam ou enterram o lixo dentro da propriedade, e 1,84% o jogam em terreno baldio ou logradouro.

A energia elétrica está presente na grande maioria dos domicílios, com 88,68% tendo acesso à rede geral. Outros 6,60% são abastecidos por outras fontes, como gerador ou energia solar. O infográfico também destaca que jovens, pretos, pardos e indígenas enfrentam uma incidência significativamente maior de precariedade no acesso ao saneamento básico, enquanto os domicílios chefiados por pessoas de cor amarela ou branca demonstram maior acesso à infraestrutura.

Por fim, a maioria esmagadora dos domicílios (85,62%) possui banheiro de uso exclusivo, enquanto 4,44% utilizam apenas sanitário ou buraco para defecação e 0,58% não possuem banheiro ou sanitário algum. Em síntese, a economia de Alagoas demonstra uma resiliência e um potencial de crescimento que a colocam em uma posição de destaque no cenário regional e nacional. O estado tem sido bem-sucedido em impulsionar o PIB e o emprego, mas os dados do Censo de 2022 revelam que o progresso econômico não tem sido acompanhado pela universalização de serviços básicos essenciais, resultando em profundas desigualdades sociais e de infraestrutura. A forte dependência da capital, Maceió, também representa um ponto de fragilidade para a sustentabilidade do crescimento a longo prazo.

Infográfico sobre acesso a serviços de saneamento básico em Alagoas

Fonte: Seplag AL, 2025

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